Como escolas de dança se reinventaram e garantiram o bem-estar – e a matrícula – de seus alunos
Desde março de 2020 o mundo passa por um processo de adaptação das atividades cotidianas para o mundo virtual – e as escolas de dança, muito presentes no cotidiano de milhares de crianças, se incluíram nessa migração.
Aulas de balé e outras danças vêm sendo ministradas de forma online, e professores e proprietários de escolas e academias tiveram a obrigação de se reinventar para motivar e captar a atenção de alunos de 4 a 12 anos – que têm a dança como uma atividade extracurricular que as permite gastar energia e obter disciplina e foco.
Somente no Rudge Ramos existem mais de 15 escolas de dança com dezenas de professores. No Marcia Bueno Estúdio de Dança, na Avenida Caminho do Mar, por exemplo, mais de 60 alunos são crianças entre 4 e 12 anos. Marcia Bueno, proprietária do Estúdio, explica que uma das grandes dificuldades iniciais foi prender a atenção dos alunos de 4 a 8 anos: “A primeira estratégia que utilizamos foi enviar um kit com materiais pedagógicos para que eles utilizassem em casa”, disse Marcia. Além disso, o estúdio promoveu encontros online além das aulas, como gincanas, festa junina e noite do pijama. Para a mesma faixa etária, os professores do Ballet Elisa, localizado próximo ao Centro de São Bernardo do Campo, apostaram em aulas temáticas. “Com as ‘menorzinhas’, nós começamos a fazer aulas temáticas. Aula da princesa, aula da bruxa, aula do pijama, aula da cozinheira”, conta Elisa Godinho, proprietária e professora da escola de dança.
Para a faixa etária dos 9 aos 12 anos, a técnica utilizada por Marcia Bueno foi diferente. “Começamos a trabalhar o emocional ligado aos desafios, esperando que isso fosse motivante, que é o que atrai a criança nessa faixa etária”.
Problemas de tecnologia, como falta de bateria e de conexão, também foram mencionados por ambas. No entanto, um dos maiores desafios foi a falta de espaço e a periculosidade de se trabalhar com saltos e giros sem a supervisão adequada dos professores. Um dos suportes fornecidos por Marcia foi a entrega de linóleo, um tecido impermeável utilizado por bailarinos, para que as crianças acima de 8 anos tivessem maior mobilidade e autonomia com menos riscos.
Para os alunos de Elisa que se preparavam para os exames da Royal Academy of Dance, a falta de espaço também foi um grande problema. No final de 2020, eles tiveram apenas três semanas de aulas presenciais para se readequar aos estúdios antes da apresentação para a organização. “As crianças dançavam naquele espaço super pequeno, restrito, de 1x2, 2x2. Presencialmente, era como se tivéssemos as tirado de dentro da jaula, mas elas ainda tinham a sensação de estarem presas. A readequação de espaço foi uma dificuldade grande”.
Apesar de ser impossível ministrar uma aula de dança online da mesma forma de uma aula presencial, as professoras apontaram mudanças positivas no comportamento das crianças. “Trabalhar nas aulas online trouxe outras capacidades que são importantes para um bailarino. O pilar principal foi trabalhar a emoção, o equilíbrio. E quando eles voltaram para o presencial, todos os professores disseram que eles estavam mais bem-encaixados, com uma consciência corporal melhor”, conta Marcia. As aulas presenciais retornaram em setembro de 2020, mas foram suspensas novamente em março de 2021.
Elisa acredita que a dança também ajudou as crianças a manterem o bem-estar mental: “A dança te leva muito além do teu corpo. Então, quando você interpreta, quando você faz seus movimentos, você consegue sair um pouco desse espaço que você ‘tá’ preso e libertar um pouco a alma”.
Para Juliana Chiavegatti, mãe da Isabella, de 5 anos, a maior mudança de comportamento de sua filha após as aulas de dança online foi a segurança. “Minha filha era uma criança muito insegura e carente. Ela tinha bastante vergonha de fazer e errar, e as amigas rirem ou qualquer coisa assim... e aí a gente foi conseguindo contornar isso, e hoje ela adora o balé, adora a ‘prô’ e as amiguinhas!”. Além disso, Juliana defende as aulas de dança como parte da rotina. “A criança entende o mundo a partir da rotina do dia dela. Quando a Isabella entrou o balé, eu percebi que ela ficou um pouco mais calma nesse sentido, porque ela entendeu que tudo bem a gente estar em casa, mas que tinha atividades para fazer, direcionadas, diferente do que tinha antes”, explicou.
Comments